quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Arco-íris em Dia de Chuva

  "Como a chuva só desmancha. Pensamento sem razão"

Vinha caminhando vagarosamente, subindo a rua - deserta, como sua alma - vinha em silêncio, mas trazia mil pensamentos consigo. Os fones, aos ouvidos, "Esconderijo - Ana Cañas". A cantora não é popular, a música não é muito conhecida, mas a letra era quase a sua biografia momentânea. Por dentro passavam aquelas coisas todas, que todos desconhecem. Algumas poucas gotas começaram a cair, quase com a intenção de lavá-la, curá-la, e assim ela quis que o fizesse, não abriu o guarda-chuva, deixou-se molhar o corpo, até a alma, mas não o coração, esse ela o guardou. Não tinha motivo claro, ou talvez não desejasse ocupar seus pensamentos com isso. Só o guardou.
O corpo se revigorou, o coração não.

Encontrou o garoto do ônibus - longa história essa, outro dia talvez lhes conte - com o qual nunca havia trocado palavras, apenas olhares. O que para ela honestamente, valia mais. Deu um sorriso de canto de boca, tentando ser simpática, esboçar a alegria que não possuía naquele instante, e disfarçar as poucas lágrimas que por sorte se misturavam com a chuva fina que caía. Ele, porém, conseguiu claramente, perceber aquela aparente alegria, disfarçando a lágrima, e a acolheu sob seu guarda-chuva.  Perguntou-lhe, o tal motivo de sua tristeza. Em tom baixo e voz rouca, ela tentou desconversar. Ele insistiu. Ela não resistiu. Não queria resistir, não naquele momento.

E ficaram os dois, ali, sob a chuva, na rua deserta -com uma alma não mais tão deserta  assim -  de céu nublado, como se não houvesse nada além do velho guarda-chuva preto, desenterrado do baú, que os protegiam. E atraía um arco-íris no céu.

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