quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Mera providência

Não havia crença em coincidência. Acreditava em providência, em propósitos, em conspiração cósmica, em uma força maior. Não entendia o porquê dos fatos recentes, mas negava-se a aceitar a resposta de "simples acaso".
Não é possível o acaso agir tão bem assim...
A verdade é que sempre restou a dúvida. Se era obra transcendental toda aquela narrativa digna de romance de Best-Sellers ou se era aquela garota criativa e crente demais que depositava esperanças sempre onde não devia.
Seja um ou outro, ela embarcou na trama, para ver onde isso tudo iria dar. Ele era um anjo, e ela gostava disso. Ela o admirava. Ainda se fosse ilusão demasiada, aquilo andava fazendo-a bem. E mesmo sabendo das possíveis consequências e dores futuras embarcou em mais uma história ilusória, com final-trágico previsível para um doas lados, sem sombras de dúvida o dela. Mas ela embarcou assim mesmo, ela acreditava em providência, ela queria ver onde isso a levaria. Ela sempre acreditava. Até quando nada nem ninguém a pediam isso.Ela acreditava.
Um Best-Seller ainda inacabado.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Manual

Antes que você vá e eu fique aqui me lamentando pela minha monótona covardia eu preciso saber. Quando foi que nos tornamos isso? Passei o dia tentando lembrar, e não lembrei. Eu pensei que dessa vez seria diferente, mas não foi. Eu tentei por tudo manter a pose, tentei seguir o manual do desapego, aquela coisa de “não criar expectativas”, mas não funciona comigo. Eu só queria saber se você se sentia como eu ou eu era a única aqui a sempre sentir demais. Sentir muito.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

O não-ocorrido. A covardia.


Só houve lágrimas, e covardia.
Foi frio. Foi falta de coragem.
Ela queria. Tinha expectativa. Mas pensou duas vezes,
De novo.
E hesitou.

Ela sabia que tinha deixado o momento escapar, e se odiou o resto da semana por isso.
Perdera aquele momento. Deixara ele sem amparo.
Por covardia.
Covarde.
Covardia.
Adia. Adiou.

Falhara. De novo.
De novo? De novo.
Ainda que tentasse aceitar que o não-feito não poderia ser mudado, não conseguia.
Não conseguia dormir com a angústia do não ocorrido.

Era uma espécie de ódio-próprio,
pela falta da preciosa coragem.
Coragem!

"Quer tomar um pouco de ar?", alguém lhe perguntou,
"Aceito coragem,se tiver", pensou. - Acho que sim, respondeu.
O pulmão se enchia de ar, e a cada respiração sentia-se despedaçando.

(Sobre você. E o não ocorrido.
De novo. De novo) 

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Sob o céu


Eu não tenho medo de voar.
Eu tenho medo de estar fechada num lugar e de ter escolhido estar fechada nesse lugar. Tenho medo porque meus pés sentem o chão mas ele é falso. Meus pés sempre me obrigam a sentir a verdade e eu sou obrigada a dizer a eles que aquele chão não dura e nem é de terra.

Tati Bernardi

Leio-te


"Leio-te: — o pranto dos meus olhos rola:
— Do seu cabelo o delicado cheiro,
Da sua voz o timbre prazenteiro,
Tudo do livro sinto que se evola ...
Todo o nosso romance: - a doce esmola
Do seu primeiro olhar, o seu primeiro
Sorriso, - neste poema verdadeiro,
Tudo ao meu triste olhar se desenrola.
Sinto animar-se todo o meu passado:
E quanto mais as páginas folheio,
Mais vejo em tudo aquele vulto amado.
Ouço junto de mim bater-lhe o seio,
E cuido vê-Ia, plácida, a meu lado,
Lendo comigo a página que leio."

Olavo Bilac

http://cafeenostalgia.tumblr.com

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Viver é melhor do que sonhar

Sentia que podia voar. E se jogou do prédio mais alto. Sentia que era correspondida. E se jogou sem nem pensar duas vezes. Sentia que era a chance da sua vida. Que era a sua hora. Seu dia. Sentia que dessa vez era seu ano. Sentia que era admirada. Sentia, meio desconfiada, que era amada. 

E ficou a se perguntar quando havia se tornado assim tão sensitiva. A pergunta ficou sem resposta. Mas isso pouco importava.

Um abraço. Dois elogios. E muita irritação. Bastou isso. E ela ainda achava que era inatingível.  No fim, não era. Nunca foi.
Foi pega de surpresa. Quando percebeu, estavam quase sempre juntos, em quase todos os lugares.

No fim, ela não podia voar."Talvez estivesse fantasiando, sei lá. Mas a impressão foi fortíssima, nunca ninguém tinha lhe perturbado tanto."